Marighella é o primeiro filme dirigido pelo ator Wagner Moura, ator baiano, celebrado como um dos maiores talentos da sua geração, este ano, finalmente depois de muita polêmica viu seu primeiro filme ser lançado em todo o país.
O roteiro do filme foi escrito por Moura e Felipe Braga (Sintonia) que se inspiraram no livro que traz a biografia de Marighella, com o título, Marighella – O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo, do jornalista Mário Magalhães. No entanto, filmar Marighella não foi uma tarefa fácil, pois além de enfrentar uma estrutura destruída da produção audiovisual no país, o diretor também enfrentou critica pesadas causadas pelo momento político conservador que o Brasil enfrenta, diante deste cenário Wagner Mora afirma que o projeto foi severamente censurado em diversos momentos.
Mesmo neste cenário inacreditável que o país vive hoje, o filme foi rodado e recria de forma esplendida dois momentos simbólicos da vida do guerrilheiro Carlos Marighella, quando o político, escritor e guerrilheiro comunista marxista-leninista foi baleado e preso pelo regime militar, em 1964, e suas atividades à frente do grupo armado de oposição à ditadura ALN (Ação Libertadora Nacional), de 1968 até o seu brutal assassinato, em 1969.
O filme vai muito além de discutir questões morais e legais da ação de Marighella e dos seus aliados, o que o diretor vem nos mostrar é a humanidade retirada do guerrilheiro, homem, pai, militante, esposo que ficou conhecido como “terrorista” e foi chamado de “inimigo número um do Brasil”. Todos esses adjetivos dirigidos ao guerrilheiro tinham como objetivo exclusivamente diminuir a complexidade de um corpo de trabalho político que foi muito além do combate à ditadura. No entanto, o que não nos foi mostrado, intencionalmente, foi a humanidade por trás deste homem que lutou bravamente pela igualdade de direitos, pelos menos favorecidos, sim, ele usou a violência para combater a violência, no entanto sua luta era contra a opressão e o integralismo que dominava o Brasil.Após 1964, Marighella começou a usar táticas violentas contra a ditadura militar, mas isso aconteceu após ter atuado fortemente como deputado federal e ativista político.
Outra polêmica causada pelo filme foi a escolha do ator e músico Seu Jorge para representar Carlos Marighella, opositores ao projeto e seguidores dos ideais Bolsonaristas não aceitaram que um negro assumisse o papel de Marighella, alegando que era uma imposição ideológica e política do diretor. No entanto, Wagner Mora ressalta que Marighella era filho de Maria Rita do Nascimento, mulher preta, e neto de escravizados africanos, desta forma o filme traz a Marighella sua identidade racial que foi apagada e embranquecida por um regime ditatorial, além de denunciar claramente o racismo estrutural brasileiro. O diretor lembra que tivemos um grande guerrilheiro, político, escritor e lutador pelas causas sociais que era Negro.
Ficou curioso para ver toda essa trama e conhecer uma parte da história do Brasil que foi apagada? Assita ao filme! Ele ainda esta somente nos cinemas, mas em breve estará disponível nas plataformas digitais.